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Posts Tagged ‘terry o’quin’

Vampiros e lobisomens estão em alta graças a saga Crepúsculo. Nela, os dois seres estão em guerra desde tempos imemoriáveis devido a uma disputa de terras e alguns desentendimentos. Então para os adolescentes fãs da franquia, vamos mostrar a verdadeira origem dessas criaturas da noite.

Existem duas origens para os vampiros e todas elas se relacionam com a Bíblia. Nas escrituras hebraicas, ou velho testamento, o livro bíblico de Gênesis conta a história de Caim, filho de Adão, que assassinou seu irmão Abel e foi marcado por Deus para que ninguém o matasse, além de ser condenado a vagar no deserto e viver do trabalho de suas próprias mãos. Caim é sempre apontado como exemplo de homem fraco, que sede aos desejos egoístas da carne. Em livros apócrifos lemos que Caim se encontrou com Lilith, que seria a primeira esposa de Adão, antes de Eva, que por não se submeter a chefia de seu esposo foi banida do Paraíso e se tornou a mãe de todos os seres do mal. Lilith deu seu sangue para que Caim continuasse vivendo eternamente ao seu lado, dando origem assim ao primeiro vampiro da história.

A segunda origem tem a ver com as escrituras gregas, ou novo testamento. Judas Iscariotes era um dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Sua ganância o levou a trair Cristo por 30 moedas de prata. Arrependido, Judas tentou devolver o dinheiro de prata, porém foi rejeitado. As 30 moedas de prata se tornaram insuportáveis para ele, que as jogou longe. Judas não conseguiu suportar sua consciência pesada por ter levado à morte um homem inocente e se suicidou. A Bíblia também não nos conta mais nada daí em diante. Mas já podemos perceber de onde tiraram a idéia de que a prata é letal para esses seres e a estaca no peito lhes é mortal. Também o suicídio na lenda vampírica é um modo de se compactuar com as forças inferiores e se tornar um vampiro, morrendo para o mundo mortal e vivendo entre os mortos vivos.

Na literatura, Bram Stoker em 1897 conta a história de Conde Drácula através de jornais e diários. O livro conta que Count Dracula (seu primeiro nome não é revelado) vivia em um remoto castelo na Transilvânia, sendo uma pessoa com enorme poder sedutor e levando uma vida de luxúria. Além de hábitos não convencionais, como o de não sair à luz do sol. Cercado de mistérios sobre sua vida, verdadeira idade e o mais estranho, várias mortes envolvendo sua pessoa de forma não direta.

Bram Stoker na verdade se aproveitou de várias referências folclóricas que tinha acesso e as rearranjou, tornando Dracula o vampiro mais conhecido até hoje, tendo sua história recontada não oficialmente no cinema em Nosferatu, (Nosferatu, 1922) por Friedrich Wilhelm Murnau. Mais tarde Tod Browning nos trouxe Dracula (Dracula, 1931) com a inesquecível atuação de Bela Lugosi. Desde então diversos nomes revisitaram e adaptaram a história dos filhos da noite. Alguns atores ficaram muito populares por dar vida aos sugadores de sangue como Brad Pitt vivendo Louis de Pointe de Lac em Entrevista com o Vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles, 1994) de Neil Jordan, Richard Roxburgh como Count Vladislaus Dracula em Van Helsing (Van Helsing, 2004) de Stephen Sommers. Esse último traz várias criaturas da noite, como lobisomens e até o Frankenstein, personagem original de Mary Shelley.

Esses vampiros seguem as mesmas características básicas: se alimentam de sangue humano, prata lhes causa dano, são mortos vivos com alguma ligação com o submundo e são seres do mal. Não saem à luz do sol porque podem ser reduzidos a cinzas, e nesse ponto os vampiros de Crepúsculo são diferentes, pois só não caminha ao sol porque brilham. É.

Diferente dos vampiros, que podemos ver várias referências a textos bíblicos e a livros apócrifos, os lobisomens tem sua origem na Grécia antiga com o mito do rei Lycaon. Em suas habituais visitas ao mundo dos homens disfarçado de viajante comum, Zeus passou pela corte do rei Lycaon. Reconhecendo o deus, Lycaon tentou matá-lo ao oferecer-lhe como alimento carne humana. Zeus reconheceu a intenção do rei e destruiu o palácio, além de condená-lo a viver pelo resto da vida como lobo. Provavelmente essa lenda tem origem devido a palavra grega lykanthrōpos: lykos – lobo e anthropos – homem.

Ainda sobre a origem dos homens lobo, desde o século 15 a Europa sofria com inúmeros ataques de lobos a humanos que trabalhavam em florestas. Não muito tempo depois o folclore contava que humanos amaldiçoados por demônios e bruxas más, se transformavam em lobos em noites de lua cheia. Aqueles que escapavam vivos de seus ataques com mordidas ou arranhões, também recebiam a maldição da licantropia. Como se livrar deles? Apenas com o tiro de uma bala de prata.

Os portugueses trouxeram a lenda dos lobisomens para as nossas terras. Segundo o nosso folclore, todo o sétimo filho de uma sequência de seis mulheres ou seis homens, é amaldiçoado com a licantropia.

Nos cinemas a primeira aparição dessas criaturas na grande tela foi em 1913, uma película de 18 minutos em que um índio americano conta a lenda de um povo com a habilidade de se transformar em lobos. Em 1981, Joe Dante dirigiu Grito de Horror (The Howling), um thriller em que a jornalista Karen White (Dee Wallace) após ser atacada por uma misteriosa criatura, vai para uma casa de repouso no campo sem saber que o local sofria constantes ataques da mesma criatura. Esse filme faz parte da chamada “trinca de clássicos” dos lobisomens. No mesmo ano, John Landis dirigiu (e também assinou o roteiro) Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London), uma comédia de horror apresentando os lobisomens e sua sede de sangue humano com muito humor negro. Em 1985 A Hora do Lobisomem (Silver Bullet), baseado no livro homônimo de Stephen King, que também assina o roteiro do filme, é dirigido por Daniel Attias e é considerado um dos melhores filmes sobre o tema. Não é apenas focado no lobisomem, o filme tem várias pequenas tramas muito bem desenvolvidas. Nesse filme Terry O’Quinn, o Locke de Lost, faz o papel do xerife Joe Haller. Hoje temos o lobisomem adolescente bonitão Jacob Black, vivido por Taylor Lautner em Lua Nova (New Moon, 2009).

E sim, como na saga Crepúsculo, em mesas de RPG lobisomens e vampiros não compactuam de relações amigáveis. Lobisomens são filhos de Gaia, a mãe terra. Os vampiros são seres não naturais, impuros. Os homens lobo sentem a presença dessas criaturas com grande facilidade. Para poder exterminá-los, claro.

É interessante recordar as origens e ver as adaptações ao longo das épocas e como o público lida com elas. No caso da saga Crepúsculo, tanto os vampiros como os lobisomens tentam levar uma vida pacífica com os humanos, o que seria impossível, já que sua verdadeira origem é maléfica. E vale lembrar que o verdadeiro motivo de vampiros não poderem andar à luz do dia e dos lobisomens só se transformarem à luz da lua cheia, é a dicotomia luz e escuridão. A luz pertence ao bem e a escuridão ao mal. Logo, ver vampiros à luz do dia, caminhando com humanos é um pouco estranho. Mas são adaptações, leituras que vem para somar. Qual será a próxima releitura feita para essa nova geração?

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